sexta-feira, julho 29, 2005

versinhos

Saber e não entender é não saber
Porque você foi embora.
E deixar de pensar em você
É esquecer do que sou agora.

terça-feira, novembro 16, 2004

Tem alguém aí?

Gritarei para ouvir o meu eco
E com ele conversar
Se ele me retrucar
Calo-me para não ter um trec
o.

quinta-feira, julho 08, 2004

Escaninhos

René Descartes é o culpado de nossos problemas sentimentais. Há muito tempo aprendemos a classificar, analisar e sintetizar tudo em nossa volta com rigor matemático. Até aí tudo bem. O problema começa quando fazemos isso com os nossos sentimentos....

Temos classificação para todo o tipo de relacionamento humano: amizade, namoro, noivado, casamento. Ou é uma coisa, ou outra. Quando estamos apenas curtindo uma pessoa logo vem aquele comentário “vocês estão namorando?” seguido de uma longa explicação. Muitos relacionamentos fracassam pela angústia da classificação. Parece que temos que colocar tudo em escaninhos fechados: esta aqui é minha namorada; estas duas são minhas amigas; aquela é parente; este aqui não sei bem ainda.....mas está com cara de colega....bem, fica aqui por enquanto. É um verdadeiro saco....

Garanto que muitos relacionamentos frustrados surgiram por pura impaciência de alguma das partes. Aquela explicação quilométrica acaba com uma simples palavra: casados.

Até hoje procuraria um escaninho para a Karine. Nos casamos sem ninguém saber (inclusive nós). Nos vemos nos finais de semana. Por enquanto temos apenas uma prestação da casa própria em nosso nome (de solteiros, claro). Já escolhemos o nome de nossa futura filha - será Bibiana. Fazemos amor, mas dormimos em camas de solteiro. É em seu em seu colo que deposito minhas lágrimas e recebo cafuné como se fosse de minha mãe. Rimos de piadas bagaceiras e até futebol ela já está jogando. No último campeonato da praia disputamos uma vaga na ponta direita....

Qual o escaninho dela? Apenas e totalmente Karine (com K).

terça-feira, junho 15, 2004

Sabores & Odores

Aquele cheiro não saia de sua cabeça. Atordoava-o a todo instante. Sua mulher não agüentava mais o vai-e-vem constante dentro de casa. Ele mesmo não se suportava mais! Abriu a geladeira sem ter certeza do que procurava. Na certa, estava buscando uma ocupação para os seus pensamentos, que não tinham assimilado a nova realidade de aposentado. Tinha, agora, muito tempo para aproveitar a vida. Que vida? Existe alguma depois que você recebe meias no natal e no final de cada mês enfrenta uma enorme fila para receber sua aposentadoria?

Aposentado. Antes desta ocupação ele era policial, dos bons. Fazia de tudo para manter a ordem e nunca aceitou suborno, nem quando seu superior o fez. Nunca chegou atrasado, muito menos faltou serviço. Sem contar as vezes que estava no hospital, retirando balas dos ferimentos que sofria nos inúmero enfrentamentos que teve com traficantes, assaltantes de bancos e todas pessoas do submundo do crime.

A angústia toma conta de sua alma. Está perdido e desacorçoado. Só lhe resta uma saída: mexer nas lembranças físicas. Sofrer mais um pouco, para ver se assim passa de vez o que sente. Ao pôr as mãos naquela caixa de papelão, que guardava os segredos de sua vida, os medos foram passando e as reminiscências tomaram-lhe conta da mente.

Pegou nas mãos o velho distintivo, as medalhas de honra ao mérito e os recortes de jornais que, aparecia como herói na captura de fugitivos. Mas seu maior prazer foi ter novamente em mãos o desativado revólver calibre 38 cano longo . Durante toda sua vida foi o seu melhor companheiro, estando sempre preparado para ajudar-lhe a qualquer hora. Que pecado tê-lo deixado atirado por ai.

Novamente o cheiro voltou e, pior, cada vez ficava mais forte. O cheiro era enjoativo e seu estômago dava giros de 360 graus a cada momento. Olhou atentamente para o revólver tentando descobrir se era dele que saía tal odor. Não era. Era de sua vida. O cheiro que sentia era de sangue. Sangue de bandidos e inocentes, de pretos e brancos, de pobre e mais pobres.

- Bons tempos.....E era mesmo! Fala de boca cheia:
- Só quem já matou sabe como é. Você torna-se um Deus decidindo qual a duração desta ou daquela vida. Nada como olhar nos olhos da vítima e ver sua expressão de súplica pedindo pela vida e pelo amor de Deus! QUE DEUS? Eu sou o Deus. Peça por mim!!!

Tinha apenas um vício: a morte. Faz tempo. Muito tempo que ela não é sua parceira. Mas agora, sem o distintivo, como faria? Poderia contentar-se com o sacrifício de pequenos animais, mas o sangue humano tem odor e sabor próprio.

A única coisa que tem é sua vida. Que vida mesmo? Para isso já serve...

quarta-feira, junho 02, 2004

Solidão de mim

Nos últimos dias andei muito ocupado. Tanto que hoje não conseguir me encontrar....
Como todos os dias, levantei da cama mas infelizmente não saí dela. Olhei no espelho e não me reconheci. Onde estava o Marcelo mesmo? Aquele cara estranho, com pensamentos estranhos não pode ser eu.... Sempre gostei de esculpir e, máximo que faço hoje é um amontoado de papéis na mesa. Sempre fui o cara mais folião da turma. Daqueles chatos que ficam até o último minuto da festa. Sabe há quanto tempo não vou a festas?

Já deve ter acontecido com vocês. Como o personagem de Kafka, acordei hoje em mutação. Sou algo em transição. Não acabado. Hoje gosto de chocolate, mas e amanhã? Confesso que estou com saudades do Marcelo, faz tempo que não encontro ele. Esta solidão de mim acaba me entristecendo. Olho para trás e tento descobrir onde parei. Posso ter ficado olhando Sessão da Tarde ou beijando a Karine no pátio do colégio. Realmente não sei.

Alguém me viu por aí?

segunda-feira, maio 24, 2004

Suicídio do Português

Li escrito num bilhete: O português morreu!
- Que horror! Pensei, sem crer que um indivíduo pudesse escrever isto.
- Quem foi?
Um Deus dos números que viu no futuro só emissões e recepções de impulsos elétricos entre os homens.
- Que horror! Lutem e conquistem, guerreiros. O prenúncio chegou. Notem que neste texto morreu o......


....a”

quinta-feira, maio 20, 2004

zero a zero

Ontem eu estava assistindo ao jogo entre Grêmio e Flamengo pela Copa do Brasil. Daqueles truculentos, chatos com final completamente previsível, hollywoodiano. Por volta dos 30 minutos do segundo tempo, o Grêmio jogava tão mal que já estava torcendo para o Flamengo fazer gol.

Toda a situação me fez lembrar do “Choquinha”, camisa 9 do Gramulhões Futebol Club. Centroavante goleador, fora contratado junto à Sociedade Atlética Morungava para disputar a final do varzeano contra o Grêmio Riachuelo.

Era mais ou menos 40 minutos do segundo tempo. Zero a zero. A torcida do Gramulhões muito irritada com a atuação do Choquinha. A estrela, especialmente contratada para o jogo, mal havia tocado na bola. Inadmissível um crioulo daquele tamanho não dar um chute em gol. Alguns torcedores o defendia dizendo que o time não havia jogado para ele. Outros culpavam a falta de entrosamento.
O técnico do Gramulhões que estava à beira do gramado e de um ataque dos nervos, gritava muito:

- Vai Choquinhaaaa!
- Chuuuuta Choquinha! Que m... Choquinha...

Já nos descontos, Choquinha recebe livre. É a última chance do jogo. Antes de partir para o gol adversário, ele olha para o técnico gordo que transpirava e gritava muito. Pára a bola, vira o corpo e parte contra o próprio gol. Ninguém entende nada. Os adversários param. Os companheiros param. O estádio todo pára. O goleiro de seu time (um alemão de quase dois metros de altura) não sabe o que fazer. Se ele derrubar Choquinha será pênalti? Na dúvida partiu para cima do centroavante. Com um drible desconcertante Choquinha deixa o goleiro sentado e empurra a bola para as redes. O árbitro aponta para o centro do gramado. Nenhum jogador vibra. As duas torcidas estão atônitas. Apenas o Choquinha comemora. O Riachuelo é campeão.

Antes de cair a ficha na torcida do Gramulhões, ele desce correndo para o vestiário. Antes de entrar, dá de cara com o treinador desconsolado que pergunta:

- Por que isso.....Choquinha?
- Cara, eu odeio zero a zero...teu time é muito ruim, tu é muito chato e meu nome é Joquinha. Com jota! JOquinha. - Gritou o jogador, empurrando o técnico e sumindo da cidade.

Quem dera o “Choquinha” estivesse em campo no jogo de ontem...

terça-feira, maio 18, 2004

desejos

Um desejo

Fazer meus olhos
Passearem por seu corpo,
Meus lábios sentirem seu gosto
Ter a chance de te desejar

....que desejo.

Insano, corro nú pela rua
Para chocar os olhares dos comuns
Que vivem sem paixão, sem a sua
Sem vida

....sem você.

segunda-feira, maio 17, 2004

25, quase 26

Sexta-feira, dia mundial do Happy Hour. Sentados num bar da Cidade Baixa, Alê, Osmar, Cláudio e Buba conversam animadamente. Após passada a fase de falar mal dos outros, de rir muito das piadas mais sem graça do planeta e de fazer confissões que nem o analista ouve entra em cena aquele constrangedor silêncio (sinal divino para pedir a conta e ir embora). Mas Osvaldo se vira para a Buba e dispara:

- Buba, quantos anos tu acha que eu tenho?
- Sei lá....uns.....vinteepoucos.
- Vinteepoucos é muito amplo. Eu tenho cara de que idade?
- 28 – dispara Buba sem dó nem piedade.
- 28? Bhá, bem longe dos “vinteepoucos”.... responde Osvaldo ajeitando-se na cadeira como num solavanco.

O silêncio que era constrangedor, agora vira tenso. Todos olham para Osvaldo esperando a sua reação. Alê fica com a mão em riste, tentando pedir a conta para encerrar aquela situação, mas nenhum garçom o atende. Osvaldo continua:

- Tu não é nada perceptiva...
- Eu sei dizer a idade de qualquer pessoa apenas olhando para ela.
- A é? Então quantos anos tu achas que eu tenho? – indaga Buba também se ajeitando na cadeira.

Osvaldo olha para os lados e se sente ameaçado. Um número, um número....qual número? Ele pode fazer o que todos os homens fazem neste tipo de situação: pensa numa idade real e diminui uns 4 ou 5 anos só para ver aquele sorriso da “presa”. Depois de todo o processamento aritmético, daria uns 20 anos. Mas agora ele estava acuado. Não sabia se tentava prolongar a noite com a Buba ou ganhava o desafio.

- 25, quase 26. Na tampa! Bradou Osvaldo, jogando-se para trás e abrindo os braços para receber os louros da vitória.
- Tu tá louco? Está dizendo que eu tenho um quarto de século? Grita Buba, já se levantando da mesa.
- Além de indelicado, ainda me trovou que sabia as idades das pessoas apenas olhando. Que absurdo!
- Como assim? Pergunta Osvaldo tentando contornar a situação.
- Eu tenho só 23. v-i-n-t-e-e-t-r-ê-s! Aliás, as pessoas me dão no máximo 20! Responde Buba, pegando a bolsa para ir embora.
- É....eu sei.... – murmura Osvaldo antes de sua última frase da noite.
- Garço-om!, a conta por favor.

quinta-feira, maio 13, 2004

adeus você

Quinta-feira nublada em Porto Alegre. Você já sentiu uma vontade enorme de chorar sem razão alguma?. Eu já....

Bloco do Eu Sozinho (Los Hermanos) tocando no carro. Olhando para o Guaíba um pouco agitado - ele também não gosta de dias nublados – me deu aquele nó na garganta. O dedo procura o volume do som para aumentar. É a música Adeus Você.

...vê se te alimenta e não pensa que fui por não te amar... Alguns pensamentos vagam procurando algo que não existe. Estou feliz. Contente com as coisas que estão me acontecendo. Mas a vontade de chorar vai aumentando por minha vontade.

...é bom as vezes perder, sem ter por que sem ter razão... Segurei a lágrima para olhar em volta. Não gostaria que ninguém me visse assim. Quando estamos chorando ficamos nus. As lágrimas mancham nossa maquiagem de pessoas perfeitas. Ao lado tem um carro vermelho que me acompanha desde o Gasômetro. Encostei na garagem do edifício mas não desci. Fiquei sentado com as mãos no volante, chorando. De saudades de chorar.

Pra que minha vida siga adiante....(Marcelo Camelo)

quarta-feira, maio 12, 2004

estréia

Escrever frases mal construídas....vomitar idéias de grandes romances sem início nem fim. Este blog é como aquele encontro entre ex-colegas que prometem um dia marcar algo. Ao virarem as costas, voltam ao tedioso cotidiano. Ao aconchego das idéias e ações corriqueiras. Começo com as promessas...


O Circo

Respeitável público!!
O espetáculo terminou,
A lona desceu
E o palhaço chorou...


O que fazer agora?
Um palhaço triste não é um palhaço!
Cadê o encanto?
Onde estão as crianças...

As crianças foram embora...quebrou a magia.
Mas onde? Será que foi a pintura?
Ou as palhaçadas?
Será que foi o TEMPO?

Tempo perdido, tempo vivido....
tempo sofrido, tempo ferido...
tempo fudido...
tempo...

O quê você faz com as pessoas?
Jogou na cara nossa incapacidade de amar
Amar a vida
Amar

Amor infinito?
Loucura.
Carinho perpétuo?
Besteira.

Palhaço engraçado?
Duvido.
Felicidade?
Quem sabe.

Não vivemos de lembranças
Elas é que vivem de nós
Vivemos de sentimentos
E quando estamos sós?

Perguntas sem respostas...

Choro sem lágrimas...

Amor sem saudades...

Palhaço sem o riso...

Eu sem você...

O circo fechou.